Para Aline
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Deito-me na laje morna junto aos gatos que há horas se entregam lânguidos às próprias línguas. Os fios de luz do crepúsculo escorrem translúcidos sobre os telhados. No quarto fechado, a pequena bailarina ouve Chopin e dança de sapatilha de ponta o seu petit ballet, sem importar-se que umas notas fugitivas do piano escapem por debaixo da porta e venham refugiar-se junto aos gatos. A este sinal, asas brancas dançam nas lonjuras azuis, nuvens dançam fluidas na atmosfera rosada, jovens folhas dançam coladas aos corpos das árvores, enquanto as velhas folhas rodopiam soltas com a brisa. A bailarina vem para a laje, onde há liberdade para o seu grand jeté, deixando Chopin vivo no quarto. Abraço um dos gatos, e num rompante de ternura, penso dançar com aquele cego que não podia ver a primavera em Paris.
3 comentários:
Que lindo moça! Você me arranca lágrimas com esse texto maravilhoso. Obrigada! Não pense, dance!
Oi, mamis... :)
Vim ver a lua. bjs
As palavras têm o poder de mudar
sentimentos dentro de nós!
Eu também, num ímpeto de ternura,
sinto vontade de bailar com um
cego, numa primavera em Paris!
Sempre belas as suas palavras!
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