segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Foto e legenda 4

Última...


E os ciganos do futuro resgataram Macondo das saúvas...



Foto: Thousand Images

Foto e legenda 3

Também...

Ao dobrar a esquina, encontrará a cidade submersa em quatro anos de chuva.

Foto: Thousand Images


sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Foto e legenda 2

Inspirada em Cem Anos de Solidão



Ainda que morresse de solidão, seria rainha na terra dos campanários.

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Foto: Thousand Images



quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Foto e legenda 1

Inspirada em Cem Anos de Solidão


Esperam que o sol se ponha e enfim se abra a Taberna do Catarino.


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Primeiro Maiakovski escreveu...

“Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a lua, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta
E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada.”

Depois dele, veio Bertolt Brecht e escreveu...

"Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo."

E eu, que não escrevo nada em verso, às vezes nem em prosa, digo apenas...

Formidável!

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quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Papillon


Série Breves Contos


Ilustrado com tela de René Magritte


Tirou dos pés os sapatos e tocou a transpor o campo indivisível de florezinhas púrpuras na beira de um rio azul da França, a alma insustentável dentro do corpinho impúbere, do vestido bordado em borboletas sobre o fundo branco. Desejou ser pássaro, vento, beija-flor safira que percorresse o campo numa velocidade vertiginosa e a leveza de um coração de quatro gramas, ao encontro da mansa chuva de pedras preciosas que havia depois do arco-íris. Com seu olhar de beija-flor em vôo, viu os roedores que subiam árvores à sua passagem, pares de asas surreais sumindo no horizonte como miragens, viu as flores novas brotando entre as antigas, e ao abaixar-se para apanhá-las, viu os próprios seios nascidos na última manhã. Mas não viu o bando de borboletas que a perseguia desde a partida, voejando entre as violetas o seu tempo de reprodução, a sua fome de flor e seu errante destino. Transpunha o último arbusto, pensando em retomar a viagem ao arco-íris na próxima manhã, e mal percebeu – beija-flor projetando o vôo em três direções – a revoada das borboletas que alçaram vôo de seu vestido para juntar-se à onda incólume de borboletas que viajava rumo ao fim das fronteiras. De vestido agora branco, a alma insustentável e o coração de beija-flor em repouso, tocou a transpor de volta o campo indivisível de florezinhas púrpuras, à beira de um rio azul da França.
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segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O louco e a primavera

Da série Breves Contos

Ilustrado com tela de René Magritte


O mendigo itinerante que naquela manhã morava na praça da Bandeira adormeceu no frescor do amontoado de folhas secas sob a amendoeira, e sonhou que de sua cabeça e dos vãos dos dedos de seus pés e de suas mãos brotavam flores. Acordou em pleno outono, com o sorriso cheio de brisas e uns olhos transbordantes de primavera, despetalando os próprios cabelos como se fossem azaléias.


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quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Os deuses


Da série Breves Contos.



Ilustrado por tela de René Magritte.


Depois de nove dias e nove noites pendurado de cabeça para baixo na árvore do conhecimento, Odin, rei dos deuses, estava preparado para comandar o exército de guerreiros mortos em batalha, para proteger os magos, os andarilhos e os que nascem na quarta-feira. Descansava em seu trono, de onde podia avistar o mundo todo, junto aos seus dois corvos, seus dois lobos e ao seu incrível cavalo de oito patas, todos se deleitando à visão das doze virgens aladas que recolhiam os mortos dos campos, quando a deusa Iduna, guardiã do pomar sagrado, chegou derramando sorrisos e o convidou para comer cogumelos alucinógenos atrás das moitas de amoras selvagens do pomar. O deus da morte e da sabedoria olhou no fundo dos olhos de Iduna, e sem pensar por mais de três segundos, seguiu atrás de seus passos, pensando em quanto teria sido melhor ter passado os nove dias e as nove noites pendurado àquela mulher. De cabeça para baixo.
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segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Canção da Primavera

Para Margarida C, ainda que não seja primavera, nem aqui, nem em Lisboa. Mas é setembro...

Primavera cruza o rio
Cruza o sonho que tu sonhas.
Na cidade adormecida
Primavera vem chegando.

Catavento enloqueceu,
Ficou girando, girando.
Em torno do catavento
Dancemos todos em bando.

Dancemos todos, dancemos,
Amadas, Mortos, Amigos,
Dancemos todos até
Não mais saber-se o motivo...

Até que as paineiras tenham
Por sobre os muros florido!

Mário Quintana