Abre as janelas, Maria, que já começa a chuva... Desliga o rádio, a televisão, esquece o jornal com todas as previsões de sol para esta manhã, e vem ouvir a chuva que já escorre sua líquida canção por nossa soleira. Olha as mangueiras como estão caladas, os cachorros que das varandas deitam olhares aquosos para a translúcida paisagem, a cabecinha silenciosa do bem-te-vi que se abrigou no bojo da luminária, o velho que na rede submerge a alma em suas melhores lembranças trazidas pela chuva abençoada.
Abre, Olívia, primeiro as janelas dos teus olhos, onde a luz clarividente antecipa a melodia de cada gota que virá ensopar nosso domingo. Deita aqui, tua preguiça em meu colo, despeja os cabelos sobre o vestido que escolhi para ver a grama lavada, a terra lavrada ao peso da água, da chuva que nos choverá em cada palavra, movimento, suspiro, olhar, em cada brando gesto de tua candura.
Não rodopies assim tua alegria, Júlia, que a chuva se espanta! Não ria do anjo de penas ouriçadas que se debruça à janela à espera do sol. Deixa que ele esconda devagarzinho a cabeça entre as asas e se renda à mansa composição que o embalará para o sono. Serena teus gestos, estende teus braços meninos, sobe nas pontas de tua sapatilha de bailarina e colhe na palma uma gota para mim.
Vem, Maria, em passinhos miúdos ver as folhas secas que já cobriram a varanda, as ardósias afagadas pela enxurrada, que tudo isso é parte da canção. Levanta aos joelhos teu vestido, espicha assim as pernas e teu delicado sopro de vida ao meu lado, deixa molhar na chuva as pontas dos dedos de teu pezinho, nos pingos que se derramam fluidos sobre a verdura. Agora canta, Maria, com todos os teus cristais, esta canção com a chuva...
Abre, Olívia, primeiro as janelas dos teus olhos, onde a luz clarividente antecipa a melodia de cada gota que virá ensopar nosso domingo. Deita aqui, tua preguiça em meu colo, despeja os cabelos sobre o vestido que escolhi para ver a grama lavada, a terra lavrada ao peso da água, da chuva que nos choverá em cada palavra, movimento, suspiro, olhar, em cada brando gesto de tua candura.
Não rodopies assim tua alegria, Júlia, que a chuva se espanta! Não ria do anjo de penas ouriçadas que se debruça à janela à espera do sol. Deixa que ele esconda devagarzinho a cabeça entre as asas e se renda à mansa composição que o embalará para o sono. Serena teus gestos, estende teus braços meninos, sobe nas pontas de tua sapatilha de bailarina e colhe na palma uma gota para mim.
Vem, Maria, em passinhos miúdos ver as folhas secas que já cobriram a varanda, as ardósias afagadas pela enxurrada, que tudo isso é parte da canção. Levanta aos joelhos teu vestido, espicha assim as pernas e teu delicado sopro de vida ao meu lado, deixa molhar na chuva as pontas dos dedos de teu pezinho, nos pingos que se derramam fluidos sobre a verdura. Agora canta, Maria, com todos os teus cristais, esta canção com a chuva...