Reli recentemente o clássico Dom Casmurro, para ajudar minha filha em um trabalho da escola, e voltei a pensar – com aquela estranha ansiedade que dá vontade de mastigar o cotovelo – sobre o enigma de Capitu. Vejam só, com tanta novela boa passando na televisão, eu pensando em Capitu. Todo mundo, até quem não lê, já pensou um dia em Capitu. O Saramago por aí, escrevendo coisas incríveis, seus livros virando filmes, a Malu Magalhães revolucionando a música aos 16 anos, namorando um Hermano, e eu aqui, escrevendo a quarta frase terminada com o nome de Capitu.
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Onde quer que esteja, não tenho dúvidas de que Machado de Assis é uma alma perseguida, porque fez o favor de criar um enigma que persegue indefesos leitores pela vida afora. E continuará sendo, pela eternidade, enquanto Dom Casmurro não alimentar uma boa fogueira. Tá... é só um desabafo. O romance é tão bom que qualquer adjetivo da língua portuguesa pode lhe diminuir a significância. Arrisco dizer que quem não leu Dom Casmurro não viveu... mas vai morrer mais feliz. Ou menos infeliz.
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Pensar sobre o enigma de Capitu é um sofrimento parecido a uma fome que não se pode matar, a procura de uma palavra que foge quando a gente mais precisa escrevê-la, ao incômodo de um cotovelo mastigado. O que me perturba em Capitu não é a possibilidade de ter traído, mas a de ter traído e não ter contado. Mas se não fosse isso não haveria enigma, e Dom Casmurro não seria. Enfim. Com Dom ou sem Dom, infidelidade é perdoável. Deslealdade, sabe Deus, Capitu.
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Portanto, visitante, leitor esporádico ou assíduo... ajude-me a me livrar dessa embaraçosa perseguição do Machado e me responda: Como se chama aquela tartaruga de óculos das historinhas do Maurício de Sousa? Era o Mestre dos Magos o bandido da Caverna do Dragão? Usucapião é uma palavra masculina ou feminina?