O mar rumoreja inquieto, cantando à areia canções de náufragos, enquanto a estação se finda na lonjura transoceânica dos olhos do poeta que partiu. Hoje não fui às dunas nem esperei por aquela mensagem que parece viajar em um triste e desamparado navio de cargas que jamais chega ao seu destino. Debrucei-me à janela apenas, e até o sol se pôr sonhei com o poeta vindo pela areia branca do dia chumbo, procurando a liberdade de meu exílio e arrastando no braço nu sua poesia vestida de roxo-sangue. Vinha descalço e com os cabelos fluindo em ondas amendoadas pelo sol. Nada mais belo. Nem mesmo o próprio mar, que fluía em ondas de toda cor. O poeta deixava sem culpas seu navio atracado no caos e trazia o verão inteiro preso ao sorriso. No bolso um diapasão para as notas das marés, no peito a tatuagem de uma erva rara do Caribe. E como fosse tão cinza o dia, tinha aberta ao vento a blusa amarela feita com os três metros de poente dos desejos de um poeta da Rússia, que pensava em costurar calças pretas com o veludo da garganta. O meu navio atracava no mesmo caos, meu sorriso eternizado em outonos, meu diapasão do silêncio sob o travesseiro, e o vestido salpicado das ondas de ontem, disfarçadas em chuva. Mas da janela para o mar agora vejo o poeta passar ao largo, prosseguir desenhando pés assimétricos pela areia úmida, tornando ao seu país aquático pelo caminho inverso. Em suas veias pulsam as velas do barco que singra e sangra seu oceano de plumas. Presa ao cais deixa a poesia, e no doce aceno de adeus tem o desejo do ferro devorando a ferrugem, do sim devorando o não.
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
Previsões do tempo
O mar rumoreja inquieto, cantando à areia canções de náufragos, enquanto a estação se finda na lonjura transoceânica dos olhos do poeta que partiu. Hoje não fui às dunas nem esperei por aquela mensagem que parece viajar em um triste e desamparado navio de cargas que jamais chega ao seu destino. Debrucei-me à janela apenas, e até o sol se pôr sonhei com o poeta vindo pela areia branca do dia chumbo, procurando a liberdade de meu exílio e arrastando no braço nu sua poesia vestida de roxo-sangue. Vinha descalço e com os cabelos fluindo em ondas amendoadas pelo sol. Nada mais belo. Nem mesmo o próprio mar, que fluía em ondas de toda cor. O poeta deixava sem culpas seu navio atracado no caos e trazia o verão inteiro preso ao sorriso. No bolso um diapasão para as notas das marés, no peito a tatuagem de uma erva rara do Caribe. E como fosse tão cinza o dia, tinha aberta ao vento a blusa amarela feita com os três metros de poente dos desejos de um poeta da Rússia, que pensava em costurar calças pretas com o veludo da garganta. O meu navio atracava no mesmo caos, meu sorriso eternizado em outonos, meu diapasão do silêncio sob o travesseiro, e o vestido salpicado das ondas de ontem, disfarçadas em chuva. Mas da janela para o mar agora vejo o poeta passar ao largo, prosseguir desenhando pés assimétricos pela areia úmida, tornando ao seu país aquático pelo caminho inverso. Em suas veias pulsam as velas do barco que singra e sangra seu oceano de plumas. Presa ao cais deixa a poesia, e no doce aceno de adeus tem o desejo do ferro devorando a ferrugem, do sim devorando o não.
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9 comentários:
Querida Lulih,
È uma sensação muito boa quando leio o que a minha linda amiga aqui escreve.
È tão belo!
E é tão linda a Lulih!
Que o bom Deus a abençoe.
Que Ele lhe conceda muitas alegrias e lhe dê muita Paz.
Um beijo
viviana
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perdoa a ausência por aqui... então... preciso dizer mais sobre a leveza de lulih, quando chego aqui e me deparo com uma série sobre o mar? é uma forma leve de falar sobre a profundeza deste elemento... então, a gente mergulha nas inúmeras metáforas tão lindamente redigidas por ti.
muito, mas muito, obrigada pelos textos...
Deu pra sentir daqui o cheiro da maresia, das algas molhadas, do vento.
Luli, o caos é a única fonte, onde se pode beber a água da coerência, talvez, seja esta a razão de o poeta ter deixado seu navio nele atracado.
Este conto, para um domingo à tarde, é transcedental.
Um beijo e tenha uma ótima semana.
Estava com saudades de beber tua palavras.
Gostei muitíssimo de seu blog.
Abraços de Belém do Pará.
Ronaldo Franco
Amiga Lulih:
Estarei sempre publicando em meu blog > poemas de Max.
Vc não vai deixar de lê-lo.
Agradeço a sua atenção e delicadeza.
Abraços de Ronaldo Franco.Belém do Pará.
Mas que coisa mais linda!
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