sexta-feira, 30 de abril de 2010

Pra fazer barcos de papel...

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.Acabaram de me dizer que Jesus nasceu no dia 19 de abril de 6 a.C (seis anos antes dele mesmo) e que foram os romanos que armaram essa de 25 de dezembro, pra aproveitar a data em que já se comemorava a Saturnália (dedicada ao templo de Saturno). Que a estrela de Belém era o cometa Halley e que o apóstolo Paulo foi um dos maiores conspiradores para que Jesus ganhasse o status do Messias que o povo já esperava há tempos naquele tempo. Tô besta.
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.Notícia transmitida por minha mãe, que mora em uma cidade pedaço de floresta na margem da rodovia Cuiabá-Santarém, no Pará: minha filha, você nem sabe... chegou o celular por aqui!
Não pude deixar de pensar em quanto o Brasil é grande, em quanta gente está esquecida por aí...
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.Notícia de minha Maria, que mora em São José do Rio Preto, em São Paulo: “Mãe, ontem foi uma segunda-feira de arromba! Foi o lançamento do cineclube que estamos organizando aqui na Unesp, e o evento nos deu muito orgulho. Tivemos palestra sobre a história do cinema num auditório super chique, que eu não conhecia, e exibição de curtas e cenas clássicas de filmes em telão, coquetel com comidas que eu e minhas amigas do curso de Letras preparamos, sarau com direito à música ao vivo, cerveja de graça (pra nós, que trabalhamos)... foi um arraso! Eu até cantei, com um amigo me acompanhando, mais um baixista. O som estava péssimo, mas a galera, que também não era muita gente, gostou muito. Enfim, foi uma segunda-feira histórica.”
Não pude deixar de pensar em quantos modos existem de ser feliz...
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.Comemorei meu aniversário no cinema, assistindo ao filme Chico Xavier. Foi bonita a festa, pá. Fiquei contente.
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.A melhor parte do filme Chico Xavier é a passagem da ficha técnica, no final, quando são mostradas imagens reais do Chico. E a música... a música de Egberto Gismonti.
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quarta-feira, 28 de abril de 2010

A quem interessar possa...

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.Já viu alguém grudar um chiclete atrás da orelha? Pois é... O chiclete estava na pontinha da perna esquerda dos óculos, que por sua vez estavam na bolsinha lateral da bolsa, em cujo fundo um Trydent se desempacotou e amoleceu de calor. Tudo bem. O cabelo vai crescer de novo onde teve que ser raspado.
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.Se alguém tiver um livro do Roberto Bolaño, por favor, me empreste! Qualquer um serve. E eu juro que devolvo.
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.Quinta-feira passada almocei no Mercado Central de Macapá. Poderia até dizer que foi uma coisa ímpar, se eu não pretendesse almoçar lá de novo. Então foi bacana, massa, foi lindo! Pedi um prato de peixe e me sentei à mesa com dois engraxates de Fazendinha: Cleiton e Claudiomar, de 13 e 14 anos. Conversamos sobre amenidades e dividimos uma Coca-Cola. Chovia sobre a Fortaleza de São José, e o peixe tinha gosto de infância. Aquela que vivi lá no Paraná e que me tem feito cada vez mais falta.
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.“O barulho que eu mais gosto é o da chuva”, diz Catherine Deneuve no filme Les temps qui changent.”
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.Pela publicação do livro Abilash, tenho recebido cumprimentos de várias pessoas. Inclusive de meus parentes da Cracóvia. Amaru Lehel, por exemplo, me deu de presente um quadro. Ele não me conhece, nem eu a ele. Leu o livro no sebo do Ivamar, na Beira Rio, disse ter gostado muito e desejado pintar pra mim o quadro que o Ivamar depois me entregou: uma casinha na frente de duas árvores, suspensa na lua. Casinha, árvore e lua... Parece que Amaru já me conhecia.
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.Eu tenho um grande amigo chamado Christian Tell.
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.Trabalho de manhã, à tarde e à noite. De manhã ouço risos. À tarde faço promessas. À noite, transcendendo risos e promessas, derivo por mares de páginas de livros.
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quinta-feira, 22 de abril de 2010

Noturno

Da série Breves Contos
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Era tarde. Quando ele chegou anunciando uma aurora boreal, com um sol aceso nas mãos, eu já havia anoitecido. Sendo um ser de hábitos diurnos, adormeceu sem ver o olhar estrelado que eu trazia para constelar sua noite.
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segunda-feira, 19 de abril de 2010

Iduna

Da série Pandora*
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Iduna colheu a loucura na caixa de Pandora

Não me perdoe. Minha nova ordem é inventar palavras que lhe façam mal. Crio-as no barro, na forja, no leito de Procusto, para que carreguem a sabedoria e o tamanho exato do que precisam dizer, ainda que seja necessário amputá-las, esticá-las, sangrá-las até a conformação. Pra você eu invento palavras de uma língua sem representação escrita que aprendi por instinto, em Caximba dos espíritos, em Babel, na margem da busca em minha própria gênese. Procuro palavras anticristo que não compõem nenhuma protolíngua e sua ancestralidade, leio entrelinhas de signos gráficos de 50 mil anos, à procura da asa que parte do mais abissal silêncio, a asa: a palavra que lhe faça mal. Não me perdoe, não quero de volta a flecha lançada, a brasa extinta, o vôo perdido. Sobrevivo porque me agarro ao fio inextinguível da palavra, porque meia palavra não me basta. Do outro lado do silêncio, me preparo para ouvir as palavras que criei pousando como corvos em seus ombros. E quando você desaparecer na última esquina, labirinto do nunca mais, só uma coisa me fará falta: as palavras de bem que antes desperdicei.
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*Pandora é a mulher criada por Zeus para castigar os homens pela ousadia de Prometeu em roubar o segredo do fogo. Zeus deu a Pandora uma caixa, cujo conteúdo era os males que passariam a atingir a humanidade: a velhice, o trabalho, a doença, a loucura, a mentira e a paixão. Só a esperança ficou no fundo da caixa.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A quem interessar possa...

1
Estou com medo de ser queimada viva, junto com o Yashá Gallazzi... Mas não posso deixar de dizer que gostei da crônica do Rogério Borges, aquele que agora todo o meio do mundo sabe quem é. É que quando me perguntam se nasci aqui, eu digo não. Quando me perguntam se sou daqui, eu digo sim. Pois são coisas diferentes. Nasci no Paraná, mas moro no Amapá há 24 anos e três meses. Amo o Amapá, se é necessário dizer, depois das declarações de amor pela Amazônia que tenho publicado em meus livros. E finalmente quando me perguntam se sou escritora, eu digo sou. Como escritora, percebo o valor literário do texto. E o valor do que o Rogério escreveu não está na ideia. Está nas letras. No incrível e delicioso encontro dos signos gráficos.
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2
Um amigo me disse: Mas quem é que gosta de ser alvo de piada? A loura? O português? O anão? Não concordo com a reação, mas compreendo a reação. A literatura é uma arte incompreendida. Cada vez mais solitária. Os livros que mais vendem não são necessariamente literatura.
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3
Rogério deve estar lambendo os dedos com o efeito que sua crônica causou. A finalidade óbvia de todo aquele que escreve é ser lido, e ele nunca deve ter sido tão lido antes disso. Eu, que dedico grande parte do meu tempo às maquinações da escrita, sei que é muito bom sentir o efeito que um texto causa, embora nem sempre ele seja escrito pra causar algum efeito.
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4
Claro que o Rogério foi muito mais lido no Amapá do que em Goiás. O amapaense, por sua reação, promoveu-o a grande cronista, articulista, jornalista. Por aí já o comparam a Diogo Mainardi. Quanta moral! Pressinto olheiros de grandes jornais do Brasil e do exterior já discutindo o valor de seu passe.
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5
Ouvi falar até de uma investigação da vida do jornalista por parte do Ministério Público do Amapá. Eu, se fosse o Rogério, aproveitava o embalo e emplacava um livro, um belo livro sobre o tema. Se depender dos amapaenses, rapidinho se torna um best seller. É pra isso que serve o ibope.
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terça-feira, 13 de abril de 2010

Ajay

Da série Pandora*
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Ajay colheu a paixão na caixa de Pandora
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Pra mim, ele era deus. E nada mais, porque nada podia ser mais. Amava-o desde a primeira escuridão até a última luz da vida, dono que era de toda minha honra, de toda minha glória, por todos os séculos e séculos. Meu Adonai, meu Elohim, meu Gibbor... amor de perdição, e salvação, e perdição, onipresente em meu tempo e destempo. Eu comia de sua carne e bebia de seu sangue, rendida ao sussurro de meu nome: Ajay... gozando ao milagre de sua palavra à beira de meu corpo. No paroxismo da paixão, desejava morar em seus olhos, para olhar o mundo pela perspectiva de deus. Nos desvarios da solidão, chamava os 72 nomes pronunciáveis de deus. Mas só era atendida no tempo escolhido por deus. Prisioneira da artimanha dos seus acasos, que quase nunca eram os meus, tive minha primeira crise de fé. Como compreender que tamanho amor passasse despercebido, oculto do escrutínio divino? Que meu deus me tivesse em conta de mera paisagem em seu fabuloso quebra-cabeça? Ele podia. Ele era deus. Imortal e devotado unicamente ao seu próprio ser. Incapaz do amor além do seu santo umbigo. Quem morria era eu, de inferno e sacrifício. E foi devagar que vi se apagar o sol lilás que seguia acima de sua figura. Agora sei que deus de verdade é aquele pássaro que jamais perde o azul do vôo. Sei que foi minha a criação do amor. Sei também que, por seu poder de amar, Ajay é invencível. Aquele que amei? Pra mim, ele é um pobre diabo.
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*Pandora é a mulher criada por Zeus para castigar os homens pela ousadia de Prometeu em roubar o segredo do fogo. Zeus deu a Pandora uma caixa, cujo conteúdo era os males que passariam a atingir a humanidade: a velhice, o trabalho, a doença, a loucura, a mentira e a paixão. Só a esperança ficou no fundo da caixa.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Abilash na Terra da Gente

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Olha aí o livro Abilash na revista Terra da Gente, em matéria enviada pela Escrituras Editora.
Terra da Gente tem tiragem mensal de 25 mil exemplares, com distribuição nacional, produzida pela Terra da Gente Produções, uma empresa do Grupo EPTV (TV Globo Campinas).

A autora está imensamente feliz com a publicação. Do livro e da matéria.