segunda-feira, 19 de abril de 2010

Iduna

Da série Pandora*
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Iduna colheu a loucura na caixa de Pandora

Não me perdoe. Minha nova ordem é inventar palavras que lhe façam mal. Crio-as no barro, na forja, no leito de Procusto, para que carreguem a sabedoria e o tamanho exato do que precisam dizer, ainda que seja necessário amputá-las, esticá-las, sangrá-las até a conformação. Pra você eu invento palavras de uma língua sem representação escrita que aprendi por instinto, em Caximba dos espíritos, em Babel, na margem da busca em minha própria gênese. Procuro palavras anticristo que não compõem nenhuma protolíngua e sua ancestralidade, leio entrelinhas de signos gráficos de 50 mil anos, à procura da asa que parte do mais abissal silêncio, a asa: a palavra que lhe faça mal. Não me perdoe, não quero de volta a flecha lançada, a brasa extinta, o vôo perdido. Sobrevivo porque me agarro ao fio inextinguível da palavra, porque meia palavra não me basta. Do outro lado do silêncio, me preparo para ouvir as palavras que criei pousando como corvos em seus ombros. E quando você desaparecer na última esquina, labirinto do nunca mais, só uma coisa me fará falta: as palavras de bem que antes desperdicei.
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*Pandora é a mulher criada por Zeus para castigar os homens pela ousadia de Prometeu em roubar o segredo do fogo. Zeus deu a Pandora uma caixa, cujo conteúdo era os males que passariam a atingir a humanidade: a velhice, o trabalho, a doença, a loucura, a mentira e a paixão. Só a esperança ficou no fundo da caixa.

3 comentários:

Itália Antunes disse...

Oi, Lulih. Eu quero pegar alguma coisa nessa caixa. Pode ser a experança? Beijos.

Itália Antunes disse...

Putz. ESPERANÇA.

Anônimo disse...

Feliz Aniversário ! Muita saúde e felicidade ! E que esse novo clclo traga a Esperança. Abraços, Z.