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Na manhã em que seu navio voltou ao porto de origem, Frederich Spassky estava nas tabernas do cais, agarrado às putas que faziam alvoroço em torno de seus olhos azuis e de sua pele curtida pelo sol de muitos mares. Foi abandonado para sempre nestas terras estrangeiras. Primeiro se desesperou, teve vontade de se matar, depois se acostumou, e fez do novo porto sua pátria. Arrumou-se na vida, arranjou mulher, filhos e um barco pesqueiro, embora nunca tenha deixado de pensar na Rússia e em sua amada Narkissa. Não sabe quantos anos tem. Diz ter chegado a uma idade em que não se contam mais os anos, mas se continuam a descobrir muitas coisas. Descobriu, por exemplo, onde é o lugar mais longe do mundo: a terra estrangeira. Frederich circula pelo cais com a desenvoltura dos experientes marinheiros e ainda ajuda a alimentar o mercado clandestino de ervas. Numa noite de cantorias na praia, chegou-se à nossa roda vestido de branco e com um sorriso trazido da juventude. Pediu um pouco do vinho em troca de um poema e nos fez a alma ferver de êxtase quando recitou Maiakovski em russo. Ontem me disse ter sonhado que atravessava um mar de tulipas amarelas. Hoje se demorou mais em seu aceno quando me viu na janela. Fiquei triste olhando ao longe sua cabeça branquinha, acesa pelo sol do cais. Frederich Spassky sabe que está prestes a encontrar o navio que levará a todos a uma pátria única.
Na manhã em que seu navio voltou ao porto de origem, Frederich Spassky estava nas tabernas do cais, agarrado às putas que faziam alvoroço em torno de seus olhos azuis e de sua pele curtida pelo sol de muitos mares. Foi abandonado para sempre nestas terras estrangeiras. Primeiro se desesperou, teve vontade de se matar, depois se acostumou, e fez do novo porto sua pátria. Arrumou-se na vida, arranjou mulher, filhos e um barco pesqueiro, embora nunca tenha deixado de pensar na Rússia e em sua amada Narkissa. Não sabe quantos anos tem. Diz ter chegado a uma idade em que não se contam mais os anos, mas se continuam a descobrir muitas coisas. Descobriu, por exemplo, onde é o lugar mais longe do mundo: a terra estrangeira. Frederich circula pelo cais com a desenvoltura dos experientes marinheiros e ainda ajuda a alimentar o mercado clandestino de ervas. Numa noite de cantorias na praia, chegou-se à nossa roda vestido de branco e com um sorriso trazido da juventude. Pediu um pouco do vinho em troca de um poema e nos fez a alma ferver de êxtase quando recitou Maiakovski em russo. Ontem me disse ter sonhado que atravessava um mar de tulipas amarelas. Hoje se demorou mais em seu aceno quando me viu na janela. Fiquei triste olhando ao longe sua cabeça branquinha, acesa pelo sol do cais. Frederich Spassky sabe que está prestes a encontrar o navio que levará a todos a uma pátria única.