quarta-feira, 7 de maio de 2008

Nalgum lugar

Poema de E. E. Cummings- um dos inventores da poesia moderna - musicado por Zeca Baleiro, para ser lido em voz alta ou para ser ouvido a todo volume, a qualquer hora do dia, seja qual for o estado de espírito, disposição, humor, endereço...

Nalgum lugar em que eu nunca estive
alegremente além de qualquer experiência
teus olhos têm o teu silêncio.
No teu gesto mais frágil
há coisas que me encerram
o que eu não ouso tocar
porque estão demasiado perto.
Teu mais ligeiro olhar
facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos
nalgum lugar.
Me abre sempre pétala por pétala
como a primavera abre
tocando sutilmente
misteriosamente
sua primeira rosa.
Ou se quiseres me ver fechado
eu e minha vida nos fecharemos
belamente, de repente
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda parte.
Nada que eu possa perceber deste universo iguala
o poder de tua intensa fragilidade
cuja textura compele-me com a cor
de teus continentes
restituindo a morte, o sempre
cada vez que respiras.
Não sei dizer o que há em ti que fecha e abre
só uma parte de mim compreende
que a voz dos teus olhos
é mais profunda que todas as rosas.
Ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas.