Sem pressa de voltar, vou indo a um lugar onde não há um só tempo. Onde o tempo é simplesmente o tempo que você quiser que seja. Eu vou indo e quero que ele seja infância. Minha infância tem chuva nas cercas de tábuas, nas ruas de terra vermelha que entram pela floresta cujas árvores tocam nuvens, tem chá de ervas na tarde da varanda de papoulas e colibris, cheiro de maracujá, pitanga, araçá e grama molhada. Tem estrelas em noites inumeráveis, janelas abertas por onde entram a saudade e a lua. Esse tempo é o meu presente. A vocês, como presente, eu deixo O Amor:
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Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos,
apareça
numa alameda do zôo,
sorridente,
tal como agora está
no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela,
que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o exame
de mil nadas
que dilaceravam o coração.
Então, de todo amor não terminado
seremos pagos
em inumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava
como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!
Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo
de casamentos,
concupiscência,
salários.
Para que, maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo:
- Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira.
Para viver
livre dos nichos das casas.
Para que doravante
a família seja
o pai,
pelo menos o Universo;
a mãe,
pelo menos a Terra.
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Maiacóvski