terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Sofia


Último da série PANDORA
Ilustrado com tela de Modigliani


Sofia colheu a paixão na caixa de Pandora...


Na meia-noite eu penso em Baby Zen, eu olho as estrelas da constelação colada no escuro do quarto e elas se parecem com os seus dentes branquinhos que cintilam quando ele pergunta pela milésima vez se eu sei que ele leu Quando Nietzsche Chorou. Sim, Baby Zen, eu sei, eu sei também da encarnação em que você foi rei, digo a ele. Ele fingindo tristeza de menino diz que não pode mais comigo porque de tudo eu sei. Na meia-noite eu fecho os olhos cegos de ver a dança de Baby Zen, e na escuridão ele está rodopiando na madrugada sem grilos do gramado do parque, junto aos cachorros que confabulam a fuga no próximo navio. Baby Zen pede aos bichos que olhem pra mim, e que cantem com ele Sunshine Girl, sua invenção no violão imaginário que arrasta pela madrugada povoada de lua. Toda minha alma está no parque, dançando com Baby Zen a canção que diz que Sunshine nunca ficará só. Mas ele tão pouco sabe de solidão, do medo que tenho de um dia demorar em seu esquecimento, e perde a conta dos dias que some por outras constelações. Quer ser meu Miguel Littín, clandestino em meu corpo, o louco de minha primavera, meu Karenin... perdeu também a conta de quantas almas quer ter e mal compreende que eu quero apenas que seja meu homem. Por isso não posso ignorar Baby Zen na meia-noite em que ele volta chamando em minha janela com apelo de abandonado, quando salta para dentro com garras de tigre, e me sufoca a boca com sede de náufrago. Traz uma flor na mão aberta, a alquimia e o entrepossível. Se Nietzsche teve razões pra chorar, o que será de Sunshine Girl?

5 comentários:

Anônimo disse...

Sunshine Girl vai continuar sendo bela, apesar de Baby Zen, de Sandy Man, de Lady Jane e até do Zorro se ele vier.

Itália Antunes disse...

Sunshine on my shoulders makes me happy.

Anônimo disse...

delicadeza pura!

Ori Fonseca disse...

Como eu pude não ter lido isso até agora?

joana disse...

luli emocionante.um paraiso de amor...no ceu? no inferno?
saudades de ler o que tu escreves.
joana