sexta-feira, 11 de abril de 2008

Exílio

Eu e meu anjo da guarda conhecemos o sentimento do exilado nesta hora neutra da madrugada. Na janela, junto ao gato que espreitava estrelas cadentes como a vaga-lumes, o anjo lamentava a impaciência da suicida Sophie Podolski, suspirava abstrações de Kafka, “tudo o que não é literatura me aborrece”, e me instigava a adjetivar o inconsumível e onipresente tempo nas páginas deste Lavoura Arcaica que soletro desde o início da estação, em lentos murmúrios, na esperança de que nunca se acabe.
Mas desde o início desta noite, anjo e eu rompemos a fronteira das salas, da sorte e das horas, exilando-nos da vida, para reencontrar, neste espaço transgredido e neste tempo recriado em exílio, a febre da própria vida e a captura do próprio tempo em Raduan Nassar:

“...rico só é o homem que aprendeu, piedoso e humilde, a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura, não contrariando suas disposições, não se rebelando contra o seu curso, não irritando sua corrente, estando atento para o seu fluxo, brindando-o antes com sabedoria para receber dele os favores e não a sua ira; o equilíbrio da vida depende essencialmente deste bem supremo, e quem souber com acerto a quantidade de vagar, ou a de espera, que se deve pôr nas coisas, não corre nunca o risco, ao buscar por elas, de defrontar-se com o que não é.”

Um comentário:

Tuto... disse...

tava procurando nem sei o que e te achei, acho. Tá lindo esse texto, mas creio ser um menino pobre... Retomamos o projeto e toda quarta passamos dois longas nacionais e uns curtas de quebra, aparece lá n a unifap uma quarta dessas a partir da 19h...