Pegasus
Pegasus foi como o chamei. Tinha o cavalo alado tatuado no braço. Na primeira vez que o vi, conduzia um carro molhado que deslizava no asfalto veloz. Do alto da janela, e com os olhos respingados, eu reconhecia a bênção da chuva que viera encharcar os gramados do casarão. Na outra vez, era uma outra chuva, e eu continuava na janela. O carro passou manso e Pegasus acenou. Na terceira vez parou, desceu e esperou que eu fosse ao seu encontro. “Você mora na janela?”, perguntou de longe, o braço nu mostrando as asas surreais do cavalo. Eu lhe disse que sim, que minha alma morava. “Eu vou levar você daí”, disse ele, e seu olhar tinha a promessa de uma constelação boreal ao Norte do Aquário e ao Sul de Andrômeda. E eu lhe respondi que iria com ele, desde que fosse presa às suas grandes asas. Ele riu, com a inocência de quem compreende o impossível. No outro dia, passou voando rente à janela onde eu ficava, transmutado em Pegasus, as asas brancas reverberando ao sol tímido de um janeiro de chuvas. Foi a última vez que o vi. Diante do meu assombro e da minha recusa, voou sozinho, rompendo nimbos de chumbo pela tarde transcendental
5 comentários:
Luli, como você consegue ter tanta imaginação pra escrever coisas tão belas? Estou extasiado! Me sinto com vontade de montar num Pegasus da minha sensibilidade de leitor de seus textos e também romper os nimbos de chumbo pela tarde transcendental... Pois, seus textos realmente transcendem!
Vi este texto um dia em um outro blog seu, faz tempo, e achei belíssimo. O tempo não mudou minha opinião. Um abraço!
Leitmotiv de um sonho vivíssimo, chego a perceber o brilho das calotas do carro, rodando paralelas em câmera lenta. Não sei porque, mas lembrou-me "Peggy Sue" (Francis Coppola). Acho que é isso : Pégasus é um filme de letras. Ave Luli, abraços ! Caio
Adorei o teu texto mãe... muito bacana !!! =D
Luli...
parabens muitoo lindo...
da ondi sai tanta imaginação???
...
bejooo Ana Carolina Pazinatto(filha da sua amiga de infancia Iracelis)
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