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Meu pai tem nome de poeta: Casemiro... Nasceu no Rio Grande do Sul, na década de 1930, mas não chegou a antenar-se nunca na efervescência cultural da época, na revolução industrial, na nova poesia modernista, nos romances regionalistas, na popularização dos automóveis e etcétera. Morava nos mais longínquos rincões gaúchos e precisava plantar e criar o que ia comer. Mas ouvia rádio nas altas oito horas da noite, cansado de roça, espiando pela janela a cadência das estrelas sobre o matão e com a cama já preparada para dormir. O arado à espera para a madrugada do outro dia.
Por isso sei que os ouvidos de meu pai foram educados pela mais pura música sertaneja de raiz, aquela que cantavam Cascatinha e Inhana, Tonico e Tinoco, Pena Branca e Xavantinho... Aquela mesma que ele teimava em continuar ouvindo em discos antigos quando eu já era adolescente e morria de rir de seu gosto pré-histórico.
Um dia, muito tempo depois – eu já era bem adulta – surpreendi meu pai encantado com uma música que eu costumava ouvir nas ocasiões em que tentava desvendar o que fazer para unir o fio das minhas saudades à presença real do objeto de minhas saudades... Era Louis Armstrong cantando What a wonderful world.
Ontem entrei no supermercado no justo momento em que no sistema de som ambiente Louis Armstrong começava: I see trees of green, red roses too/ I see them bloom for me and you/And I think to myself/what a wonderful world... A música de meu pai, pensei, e então de repente me lembrei que era o dia de seu aniversário. 13 de julho. Seu Casemiro estava fazendo 74 anos.
Deixei lá na cestinha o pacote de arroz com brócolis que fui comprar. Saí do supermercado para chorar de saudade de meu pai no meio do sol de meio-dia, pois já era tempo de arrepender-me das tantas vezes que zombei do sertanejo que havia em sua alma, as mesmas vezes em que ele desligou o disco de suas poucas manhãs de folga somente para me agradar.
Por isso sei que os ouvidos de meu pai foram educados pela mais pura música sertaneja de raiz, aquela que cantavam Cascatinha e Inhana, Tonico e Tinoco, Pena Branca e Xavantinho... Aquela mesma que ele teimava em continuar ouvindo em discos antigos quando eu já era adolescente e morria de rir de seu gosto pré-histórico.
Um dia, muito tempo depois – eu já era bem adulta – surpreendi meu pai encantado com uma música que eu costumava ouvir nas ocasiões em que tentava desvendar o que fazer para unir o fio das minhas saudades à presença real do objeto de minhas saudades... Era Louis Armstrong cantando What a wonderful world.
Ontem entrei no supermercado no justo momento em que no sistema de som ambiente Louis Armstrong começava: I see trees of green, red roses too/ I see them bloom for me and you/And I think to myself/what a wonderful world... A música de meu pai, pensei, e então de repente me lembrei que era o dia de seu aniversário. 13 de julho. Seu Casemiro estava fazendo 74 anos.
Deixei lá na cestinha o pacote de arroz com brócolis que fui comprar. Saí do supermercado para chorar de saudade de meu pai no meio do sol de meio-dia, pois já era tempo de arrepender-me das tantas vezes que zombei do sertanejo que havia em sua alma, as mesmas vezes em que ele desligou o disco de suas poucas manhãs de folga somente para me agradar.
10 comentários:
Essas lembranças antigas...esse
Louis Armstrong e esse mundo maravilhoso que encanta e emociona...
Senhor Casemiro com sua alma
sertaneja e seu arado...nada acaba
quando vive em nossa memória!
Depois de concluir leitura de "Querido pai", e com os fiozinhos de cabelo dos braços todos em pé, fiquei preocupado com o seu Casemiro - gaúcho de boa cepa pai da escritora e inspirador de tão virtuosa crônica. Luli, pede pra alguém estar ao lado do "tchê", lá no Trairão, na hora que ele for acessar o "Ave, Palavra!", viu?! Viva o seu Casemiro e a música (com palavras) que também é mágica!
viver é mesmo sentir... e qdo entra um desses genios pra nos trazer lembranças dessas é sempre forte, nao há como ser do contrario.
Oi, Lulih!
Sabe a Lulih que quem nasce ou nasceu no mês de Julho, só pode ser muito boa pessoa, e com muito bom gosto!!!
E que linda recordação nos transmitiu, de seu querido Pai. E com o bom gosto de um génio da música como é o Louis Armstrong, tudo ficou na perfeição!
Parabéns Lulih por tudo!
Beijo,
Renato
Que lindo poder comprar o almoço ouvindo What a wonderful world, poder ter uma recordação tão significativa e depois ainda escrever uma crônica tão bela. Beijos para ti!
Luli, então, vivas para o seu Casemiro! Sabe, meu pai também gostava de cantarolar suas músicas e, igualmente, eu e meus irmãos ríamos daquela pré-história... Hoje, minha filha faz o mesmo comigo. Acho que a vida é assim mesmo, mas, o interessante é que, assim como você, eu aprendi a gostar dar músicas que meu pai cantava e, cá pra nós, já peguei minha filha ouvindo os meu LPs... rs.
Um beijo.
A citação do verso é a chave que abre a porta da Vida :
"Vejo árvores verdes, rosas vermelhas também;
Vejo tudo florescer para mim e para você;
E (então) eu penso : que mundo maravilhoso..."
Parabéns ao Sr.Casemiro. Parabéns, Lulih. Abraços. Z.
Lulih, depois de ouvir uma história bonita dessas, só me resta largar a cestinha das minhas preocupações no chão, e daqui do sul te dar um abraço super apertado, daqueles de quebrar a espinha. Porque tem hora que é só chorar mesmo, né?
Jac, Aroldo, Kiara, Renato, Sunshine,Ernani,Z e Bete...
Bom saber que compartilharam comigo deste momento revivido.
Bem-vindos sempre!
Que triste, triste... Muito humano.
Emocionante.
Você sempre me provoca muitas reflexões, mãezinha.
Um grande beijo!
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