sábado, 7 de março de 2009

Por enquanto

Inspirado em Por Enquanto, de Renato Russo.

Pobre Baby Zen, que apanhou na rua. Trouxe para casa um braço puído, uma mochila ferida, as mãos lacrimejantes e nos olhos uma flor. A flor do parque por onde andeja junto aos cachorros que ainda não puderam empreender a fuga no navio. O navio que não quis partir antes de abril, porque só em abril haverá poesia para partir. Baby Zen está triste, as pancadas lhe partiram menos a cara que o coração. Pergunta-me o que mudará ao mudar a estação, porque pensa que de tudo eu sei. Nada vai conseguir mudar o que ficou, Baby Zen, eu lhe digo, na silenciosa intimidade com o infinito e com a ternura resignada de quem diz sim a qualquer sorte. É quando ele vem contar que pensava em mim quando viu chegando a morte. Que pensava em mim quando a morte lhe deu as costas e lhe deixou voltar para casa. E que agora sabia que tudo era pra sempre. Na madrugada acalmo os cabelos em tempestade de Baby Zen, beijo as dores intermitentes dos seus olhos e lhe afago as mágoas nuas no peito. Não posso lhe dizer que não sei o que é para sempre. Talvez seja aquele instante em que ele esquece as feridas e salta sobre minhas costas nuas com suas garras de tigre, com sua sede de náufrago. Fecho os olhos para sentir a dança de Baby Zen, que jamais saberá que o pra sempre sempre acaba.

5 comentários:

Itália Antunes disse...

Ele não disse que já leu ´Quando Nietsche chorou´?

bete p.silva disse...

É sempre bom saber que estamos voltando pra casa. A nave segue seu curso. Retornaremos. (não importa as feridas, retornaremos)

Anônimo disse...

Contraditório, como a paixão?
O blog está lindo, e os textos tão graciosos... tão! Parabéns.
Agora um cheiro.

Márcia Corrêa disse...

Lindo... Lulih!

julio miragaia disse...

pobre baby zen....
se soubesses que o pra sempre
sempre
acaba....
acabarias...