domingo, 16 de novembro de 2008

Nina


Série: Pandora


Nina colheu a loucura da caixa de Pandora...


Eu vejo o tempo sentado à minha porta, esperando que eu passe. Não me olha, não levanta a mão num de seus gestos de sábio, nem nunca ameaçou lançar-se sobre mim como a pantera da ingratidão para me devorar a doçura, minha única herança. Mas também não me parece ter complacência, e um dia, quando eu estiver bem perto, apenas me apontará um dedo sereno anunciando o fim já esperado. Enquanto ele me espera, escrevo-lhe a carta de despedida, sugiro-lhe urgente resposta porque não posso mais vê-lo ali na sua imobilidade de guardador das coisas que ele não ama. Porque o tempo simplesmente não ama ninguém. Quero saber dele quanto dura o nunca mais, quantos sóis dura um amor, em que parte da viagem ficou perdida a esperança, ficou perdido o meu nome, o desejo de ser uma mulher azul com asas de anjo, que tivesse um coração de pássaro, que respirasse saudades e cantasse ternas reticências... Ele não vai responder. Nem por isso vou odiá-lo. Vou fazer coisa pior: vou passar bem devagar e deixá-lo ao castigo da espera.

6 comentários:

julio miragaia disse...

o tempo realmente não ama ninguém. e por isso ele tanto nos tortura...

Anônimo disse...

Eu conheço uma mulher de olhar azul, de gestos leves e azuis, que adora ver o azul do céu. Será que ela é uma mulher azul?

Anônimo disse...

Cantar ternas reticências, mulher. Mulher azul.

Ori Fonseca disse...

Nina colheu a loucura e a transmutou em sanidade. Que mulher sã!

Anônimo disse...

"Disse-me ela, a Louca: Aquele que tu chamas Poeta esteve aqui ontem... Sim... Ele me deu uma estrela, aquela que acorda junto com o Sol... Hum... Quando é que você vai me responder com palavras, hein?... Escute, não foi uma estrela o que ele te deu... Foi o quê, então?... Um pássaro morto, não vês?... Claro que não é um pássaro morto, é uma estrela, escuta a luz dela... Hum... Olha a canção sibilante que sai de suas cinco pontas... Ta bom, deixa eu beber do teu vinho... Não há mais vinho, o que tinha usei na estrela para mantê-la viva... Tudo bem, vou sair... Onde vais?... Dizer ao Poeta para não beber mais teu vinho enquanto te enganas com pássaros mortos..."...

Niane de Sá disse...

e diz para a nina arrastar consigo as horas...