quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Um conto sem título, um pouco Breve.
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Ele não tinha medo de nada. Das noites de janela aberta, da escuridão, dos tropeços nas pedras disfarçadas de sombra. Não importava a travessia, o cansaço, o açoite da chuva, a madrugada. Tinha no peito a garra de um Ícaro, podia viver nas regiões rebeldes, enfrentar o santo guerreiro e o dragão da maldade. Era sozinho e combatia com febre as machadadas de Brucutu. Multiplicava-se por si mesmo, podia descer às profundezas abissais do inferno, percorrer a extensão da muralha da China, derrubar maremotos, samurais, o dragão celestial que devora o sol. E se encontrasse a morte no caos ou no silêncio do Cosmos... encontraria. Mas nada podia contra Eles, que possuíam a arma para abater sorrisos. Para que Eles soubessem disso levou apenas o tempo de seu puro olhar ultrajando a covardia. A primeira coisa que Eles mataram então foi o outono, para que não mais sorrissem seus pés sobre as folhas envolvidas em húmus e povoadas de formigas. Mataram os crepúsculos, de modo que o sol, paralisado no céu, impediu a chegada da noite, e das constelações, e do sorriso inebriado de estrelas. Tomaram para si as suas melhores lembranças, para que nunca mais Ele adormecesse sorrindo pelo que passou. Mataram tudo para o que fosse possível sorrir e mataram um pouco mais. E como ainda assim Ele os olhasse nos olhos e sorrisse a esperança de que um dia compreendessem, Eles mataram a si mesmos.

5 comentários:

Anônimo disse...

Eu vou indicar o teu blog, na minha página de orkut. Mas tens que me prometer que terá sempre textos bons assim (e isso não quer dizer que tenhas que atualizar a página diariamente).
É claro que cumprirás bem a promessa. Está ótimo! Um cheiro. Te amo.

julio miragaia disse...

de alguma forma ( não sei explicar como) esse texto me lembrou um do caio fernando abreu chamado "o ovo". gostei.

Lulih Rojanski disse...

Gostaria de dizer aos meus amigos que vêm por aqui que - depois de várias tentativas e de um ano e pouco de existência do blog - finalmente consegui instalar um contador de visitas. Ave! Agora começamos do zero... As primeiras oito visitas são minhas (hehe), por um tresloucado deslumbramento de quem jamais vai entender como funcionam HTML´s e outros agás. Bem-vindos os que têm vindo e os que espero que venham.

Anônimo disse...

Que maravilha. Que boa notícia...!

Fábio Luis Neves disse...

Caramba, esse me deu até um nó na garganta. Não sei explicar nada do que senti em meu comentário. É como se este conto tivesse matado um pouco de mim também.

Ps: acho que ele se enquadra na série Breve Contos pela temática, mesmo sendo um pouco maior em sua extensão.