domingo, 19 de outubro de 2008

Depois do Enfim

Pepê Mattos é um poeta que sempre passa pela ruazinha incerta deste blog, observa aqui o tempo, desvenda circunstâncias, divisa sonhos e colhe em minha prosa um pouco do que sou. Em uma de suas vindas, deixou este breve conto, escrito no tronco de uma das árvores da ruazinha banhada de sol.


"Enfim, assim, estampado na camiseta, ela saiu pelas ruas. Seu estado de espírito resvalava ali pelo completo desapego a tudo que a circundava. Nem se importara com a imagem do espelho mostrando uma mulher que conhecia desde o momento em que levantava da cama até quando o sono (ou uma frustração qualquer) a jogava lá de volta. Conhecidos lhe paravam nas ruas querendo respostas que os convencessem de que tudo ia bem com ela. Ignoravam que resposta nenhuma ela tinha e o máximo que saía eram umas frases atropeladas que eram decodificadas como um "tudo bem", mas que ela mesma admitia que fosse "e daí?". Ensimesmada com tamanho infortúnio resolveu entrar na primeira sala de cinema que encontrasse pela frente, na ânsia de vislumbrar no infortúnio dos outros conforto para sua inquietude. A película lhe desdizia mais coisas que todos os desmandos ouvidos até então. Insatisfeita com sua decisão, resolveu atentar para a atuação dos atores. Isso não lhe tomou mais que duas horas de seu precioso tempo. Algumas lágrimas rolaram pela sua face límpida, perfazendo um percurso que terminara ali no canto dos lábios. Não soube dizer se eram pela história que assistia na tela ou pelo que vivenciara desde que saíra de casa..."

2 comentários:

Ori Fonseca disse...

Adorável! Adoráveis!

Anônimo disse...

Obrigada, Orivaldo, por sua visita inesperada e iluminada. Quero o endereço do seu blog.