
Ai, que docinho quando ela sambava na frente da pia cantarolando “eu perdi o meu amor para uma novela das oito...” Me dava uma vontade horrível de arrancar aquele aventalzinho respingado de uma semana de sórdidas frituras e esmagá-la contra a parede da cozinha, até ela gozar. No dia em que eu resolvi agir ela trocou de música: “Um homem bonito assim, o que quer de mim, e o que ele fará comigo?”, suspirava a bandida, pensando em outro, e com o mesmo avental. Pra mim ela deixou de ser doce.
Ilustração: obra de Joan Miró