segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Branquinha

Texto de Maria Rojanski
Vê só, marinheiro, os olhos ternos da moleca. Distantes. Longe, longe. Olha só. Ela se agacha à beira-mar, agarra na coxa a barra do seu vestido cravejado de flores, e o vestido a ilumina de flores. Sabes, marinheiro, aquela flor? A que só desabrocha inteira quando a lua clama, como que pra se deleitar à luz de prata? E a moleca se espreguiça, toda prosa. O remanso traz a água pra lamber com ternura seu pé descalço e casto, seu corpo é casto, na areia túmida. A moleca já põe a canoa no mar, está agora molhada de mar até os joelhos, segura, tira a água suja do fundo do barco com a cuia. Esse barquinho é à vela. Balança, treme. É quase noite no cais, marinheiro. Daqui pra mais tarde a moleca vai tirar o chapéu de palha, vai derramar o cabelo castanho nos ombros, vai vestir o vestido de brim e seus traços vão se insinuar no mexido da saia, na nuança do tecido. Ela estará fresca e serena na noite, ela terá sereno e cheiro de mar, sentimento de mar, ela virá dançante como a maresia, ela chegará como a brisa. Mas agora, que é quase noite, que ainda é dia, ela já se sentou na proa, ela pegou o remo e está remando, e remando... Marinheiro, meu amigo marinheiro, homem de bem, o que vai havendo? Ela está branca e iluminada, e vai sumindo no horizonte. Distante. Longe, longe. Não diga que é verdade que ela parte, marinheiro! A noite enfim desmaia, tem uma lua grande e pálida. Um homem entoa uma canção de lamento num cais distante, e tu entendes o homem, marinheiro.

2 comentários:

Lulih Rojanski disse...

Para minha Maria, que é linda como a Branquinha: "Pérola negra, te amo, te amo".

Anônimo disse...

Eu não te via desde que tinhas o blog o Vôo da Garça. Maria era pequena ainda, agora já escreve tão bem! Parabens pelo novo espaço claro e arejado. Beijos: Vilma Maria