segunda-feira, 22 de junho de 2009

Aventura

Às vezes acho Macapá uma cidade estranha. Noutras tenho certeza. Meus leitores daqui me compreendem. Os demais devem limitar-se a visualizar a situação, e jamais pensar que Macapá é o fim do mundo. Só a quem é daqui ou mora aqui há 23 anos é permitido pensar isso. E a gente aproveita esse privilégio pra pensar coisas bem piores.

Resolvi me aventurar no domingo à noite em busca de um hambúrguer. A pé, porque calculei que a barraca da esquina estaria à minha espera. Não estava. Sempre em frente, como o Legião – e evitando a direção da beira do rio, onde a metade da população passeia, come churros e corre atrás de crianças tresloucadas no domingão – andei quase um quilômetro sem encontrar o hambúrguer. Um cheese banana, então, nem pensar.

Costumo pensar muito quando caminho – tem gente que fala sozinha, chuta pedras, apedreja cachorros – e ia pensando em como é interessante que sejam as perguntas, e não as respostas, que movem o mundo, quando dobrei a esquina da Padre Júlio com a Tiradentes e dei de cara com uma multidão parada na calçada. Assim, depois do nada. Uma multidão.

Eu não sei o que aquela gente toda estava fazendo ali, imagino que esperando por uns 15 ônibus, mas nem é isso o que me interessa. Foi o susto de ser engolida por uma multidão que olhava na direção contrária o que me fez sentir meio perdida, com a sensação de estar numa cena do Expresso da Meia Noite, ou de ser observada por todos: pelo rapaz que cantava eu vou fazer um ie-ie-iê romântico, pela grávida escorada no poste, pela mulher que assustava o filho dizendo que lá vinha o homem do saco (embora todo homem tenha).

Passei, e nada do sanduíche. Pra resumir, depois de dar mil voltas, encontrei uma barraca numa praça erma, a da Conceição... não porque seja distante, mas porque a falta de iluminação e o mato crescido a tornam desolada. Sua única beleza hoje é ter hambúrgueres para quem tem fome.

Voltei comendo o sanduíche pela rua, evitando pontos de ônibus com multidões, esquinas escuras – nunca se sabe onde se vai dar de cara com o homem do saco – e pra minha surpresa, ao dobrar outra esquina, fui surpreendida com a boca cheia de sanduíche por uns 30 fiéis da Comunidade Cristã de Macapá (pertinho da casa do falecido Brow), que tentaram me arrastar para aceitar Jesus.

Eu aceito, eu aceito! Mas primeiro me deixem terminar de comer, disse a eles, e em sua primeira distração, empreendi a fuga. No próximo domingo à noite, vou ficar em casa, vou comer as sobras do almoço. Se tiver.

8 comentários:

Impressoes de Fevereiro disse...

E que tal hamburguer para o almoço de domingo ? Abs, Z.

Itália Antunes disse...

Lulih, vai gostar de hambúrguer assim lá em Macapá! rsrs

Itália Antunes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Muito bom! Cê esta de muito bom humor né moça? Muitas gargalhadas... eu aceito, eu aceito! rsrs

Lulih Rojanski disse...

Z,
Ótima ideia!!

Sunshine,
Sim, sim, sim!

Aline,
Isso!

bete p.silva disse...

É verdade, Lulih, é bom você postar essas peripécias, porque nós os sulistas nem fazemos idéia dessa sua dificuldade pra conseguir um hamburquer, a gente aqui pega um telefone e pede.

É bom de vez em quando lembrar que esse brasil é imenso, que cada um tem a sua dificuldade, e que em toda parte tem gente maluca querendo converter gente pras suas seitas.

Fique bem, um grande beijo.

Maria Rojanski disse...

Que epopéia!

Márcia Corrêa disse...

Tem mesmo umas coisas estranhas em Macapá, sobretudo aos domingos: restaurante que não abre para o almoço, as melhores panificadoras fechadas pela manhã, vias de intenso tráfego fechadas para a tal "rua de lazer"... hum... Melhor mesmo ficar em casa.