quarta-feira, 8 de abril de 2009

Oh, efeito!

Uma brincadeira com Rondó de Efeito, de Manuel Bandeira - que há de me perdoar.


Olhei para ele com toda a ternura,
Disse que ele era lindo,
Que ele era brando,
Que ele tinha o toque de um deus:
Não fez efeito.

Virei vampira:
Usei cabelos vermelhos,
Batom de absinto - afrodisíaco,
Prometi uma rosa escarlate entre as pernas,
Sexo neotântrico,
E disse que o dele era de todos o maior.

À toa: não fez efeito.

Então encarnei a intelectual:
Ele era o elemento fundamental da minha fórmula,
Falei eu te amo em Armênio,
em Sânscrito e em Albanês.
Escrevi,
Recitei,
Desesperei
E comi a página onde havia a Canção das Lágrimas do Pierrot.
Decorei doze poemas de Flores do Mal para agradar seu gosto por Baudelaire,
E para boquiabri-lo de admiração, teorizei sobre o kama Sutra, (a literatura do desejo, por tal forma envolvente, que homem nenhum pode tocar no assunto sem ter copiosas ereções...)

Perdi meu tempo: não fez efeito.

Que sujeitinho insensível!
Foi uma antítese na minha vida,
Quase um anti-tesão.
Mas ainda mato sua indiferença:
Vou lhe enviar por email
Em arquivo descompactado
A fotografia do meu novo deus.
Nu.

É impossível que não faça efeito!

7 comentários:

Márcia Corrêa disse...

Que lindo o desenho da Maria. Manda pra mim por e-mail.

Maria Rojanski disse...

Mas que bacana! Eu não conheço esse poema do Bandeira, que você parafraseou ou com o qual fez um diálogo. Vou procurar. Desde já, este(seu) ficou brilhante. E você escrevendo em versos é mesmo uma novidade.
Maravilha.
Eu te gosto muito! Um cheiro.

Z disse...

Muito a propósito : também tenho um post novo. (Agora que ele gostou da idéia, ninguém segura...) Abraço, Goede Pasen, goede verlichting en vernieuwing voor u en iedereen. Boa Páscoa, boa luz e renovação a você e a todos. Z.

renato disse...

Olá, Lulih!

É um belo poema, porém com muita desilusão!

Foi um final deveras triste e muito desmotivador para quem sofre na pele tal realidade!

Tenha uma Páscoa Feliz!

Beijinho,

Renato

bete p.silva disse...

De tirar o fôlego.

Menina, você anda escrevendo a história da minha vida...

Será que você está recebendo o sagrado dom de interpretar a dor universal da mulher?...

Wicca heim?...

Ernâni Motta disse...

Hoje, não vou comentar a sua poesia, porque me faltou argumento. Só consigo repetir: "que sujeitinho insensível!".
Uma Feliz e Abençoada Páscoa para você.
Beijos.

João Esteves disse...

Bandeira deve ter adorado (que sujeitinho sensível!) como eu, que por estes versos me vi envolvido em leitura psicanalítica de amador. Caramba, você é demais.
Seu tom claramente erótico é de um bom gosto a toda prova. Lulih, que lamentável insensibilidade, a aludida. Nem com um ramalhete de uma dúzia de flores do mal. Assim não dá.
Beijos