terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Manhã

Acaba de amanhecer no mar. Foram-se embora da praia os visitantes noturnos, deixando a pequena fogueira com as brasas ainda acesas. Deixaram também seus papéis, suas cifras, que estão sendo levados pelo vento para outras paisagens, e levaram o violão, que atravessou insone as cantorias da madrugada. Ficou alguém deitado na areia, junto à fogueira, abraçado aos sapatos. Se o mar se esticasse mais um pouquinho lhe alcançaria os pés nus. Quando despertar, depois que este primeiro sol termine de lhe farejar o corpo imóvel como o de um morto, cujo único movimento é o dos cabelos e o da manga da camisa que freme como uma folha, andará errante e perdido de fome e abandono pela praia que não sabe ao menos onde é. Atravessará o tempo e os avisos de perigo pensando na moça de cabelos negros que na noite na praia lhe disse o último não. E esquecido de todas as teorias do acaso e do esquecimento, atravessará a tarde a escrever pequenos poemas na areia, que o mar depois apagará. Até que chegue outra noite, e ele possa enfim, ainda abraçado aos sapatos, sentir que o tempo liberta seu coração para voltar pra casa.

5 comentários:

bete p.silva disse...

Por que será que ele abraça os sapatos? Talvez porque deem a ele o referencial de chão...

Anônimo disse...

Luli, cá estou para lhe retribuir a visita. E confesso que me senti andando nas margens do Amazonas, em frente à Macapá. Por ter gostado e por querer voltar mais vezes, você já devidadmente linkada no meu blog, ok? Um grande abraço.

Anônimo disse...

Olá, Lulih!

Engraçado o seu nome! Rojanski é de origem Polaca, Ukrania ou outro país próximo?

É uma maravilha amanhecer junto ao mar, especialmente quando está calor!

Os sapatos referenciam os pés, como as luvas as mãos (La Palisse)!

Beijinho

Renato

Itália Antunes disse...

"Eis a felicidade possível: compreender que construir a vida é renunciar a pedaços da felicidade para não renunciar ao sonho da felicidade." - Artur da Távora

julio miragaia disse...

de alguma forma pensei no meu c.u.r.t.o. c.i.r.c.u.i.t.o ao ler esse texto. provavelmente pela referencia ao mar, me veio logo na cabeça meu andróide q fugiu da programção pra pensar em alguém...