segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Luna

Série: PANDORA
Ilustrações: telas de Modigliani
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Luna colheu a mentira da caixa de Pandora...

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Passei três anos perdendo tempo na faculdade de Ciências Sociais. A única utilidade foi descobrir que Deus não existe e que a humanidade emburrece mais a cada solstício. Joguei uma mochila nas costas e andei pelo México e pela Inglaterra, procurando o sentido da existência. Los chicos me ensinaram um pouco. Dos ingleses não saiu nem um sorriso. Por aí disseram que eu estava passando uma temporada no Daime e que voltei inventando voltas pelo mundo. Então... voltei sem dinheiro, sem homem e sem ideologia, decidida a morar na rua, doesse o quanto doesse. Em algum lugar o sentido tinha que estar. Passei oito meses dormindo no papelão, comendo o pão sovado pelo diabo, sem lugar nem na mesa do inferno. Nos primeiros dois meses perdi seis quilos, dois dentes e o livro de poemas do Baudelaire que ganhei de um mexicano pra quem dei uma coisa. Os do contra dizem que deixei o livro, o peso e os dentes na cama de um figurão que tem fama de violento. Depois me acostumei a passar fome, a ficar dias sem tomar banho, desenvolvi até um pouco de afeto pelo beco onde esticava o papelão. Ou decifrava as ruas, ou me suicidava. Foi quando encontrei essa galera punk, me encontrei comigo mesma, punk na minha origem, o punk niilista, um pouco encardido, mas criativo, dissidente de todas as influências perversas. Não precisei mais procurar o sentido. Ele não existe. Dá uma olhada aí no meu zine e diz o que tu achas da minha filosofia. Mas me paga outra caipirinha que eu te conto mais uma história.

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3 comentários:

Anônimo disse...

Depois da hecatombe azul, o que virá?... Enfim, nestas plagas onde o Sol esquece de se pôr é tempo de fim dos Tempos... Mudando de vinho barato pra um chileno encorpado de frutas temporãs anda que a Poesia circule só entre os que vêem nisso uma utilidade, poetemos... Nesse ínterim alguma palavra burila num canto esquecido de nosso cérebro e dança no ritmo de Django Reinhardt, o cigano... Hei, Django, como fazes pra sair esses sons de tua guitarra como se de de 6 mãos saíssem?... Mi amigo, su curiosidad es mi curiosidad... Ok, man, então, continue tocando com este outro mago do violino... Mi nombre, señor, es Grappelli, mas pode me chamar de Stephani... Muchas gracias, señores, muchas gracias... Señorita, aí encostada como se dois anjos tortos a tocar ouvisse e cujo semblante lembra uma manhã nórdica, aceita una contradança?...

Ori Fonseca disse...

Não poderia ser diferente. Mande mais. A Esperança continua lá no fundo.

Mayara La-Rocque. disse...

Eu que um dia, gostaria de atingir a idade completa e enxuta das tuas palavras, dos teus textos. As vezes me perco no meus, de tanta imaturidade. De não saber lidar com os devaneios do querer-ser-um-escritor. Não sei o que é ser escritor. Será ofício, profissão, talento, vocação? Tudo ao mesmo tempo? Pra mim, todos esses adjetivos se diferem apesar de tão próximos. Por isso que escrevo e paro entre eles, tentando me encontrar em algum, sem que para isso eu tenha que me definir, escritora. Uma pergunta, dúvida, curiosidade, indagação atrevida ou altamente natural: você se considera uma?
Bem, me vejo em tantos bloqueios que me revigora a alma quando me deparo com escritas que já parecem estar protegidas da chuva, com marquises de aço, ou até mesmo de vidro para que se possa sempre mirar o horizonte e admirar o céu. Gosto de ler o maduro, daquele em que se admira a cor de tanto que brilha, daquele que é formoso e cai redondo na boca dos lábios até cair na saliva da lingua e descer o peito inteiro do corpo, e se sentir o sabor circular na boca do estômago tão peculiar a um suspiro, a um murmúrio solitário no fim tarde de uma saudade repentina.
Luli, me desculpa o desafogo.Me desculpe o disparate. É que as vezes minhas palavras saem como fogo, em disparo.

Obrigada pelo seu comentário, vou te adicionar nos meus "outros imaginários".