quarta-feira, 7 de novembro de 2007

A solidão segundo o astronauta

Este fragmento do romance A Solidão Segundo o Astronauta, de Joca Reiners Terron, é uma das coisas mais tocantes entre o que tenho lido nos últimos tempos. Deu uma vontade enorme de compartilhar, como um amigo de Nélson Rodrigues, que ao ler Charles Dickens, teve vontade de sair de porta em porta anunciando: “Não espere mais. Leia já o ‘Pickwick’. Quem não leu o ‘Pickwick’ não viveu!”

“Um homem precisa primeiro soltar-se da placenta original, entre nódoas de sangue e lágrimas, em meio aos calores surgidos do atrito ainda desconhecido da pele, e rumar ao sol, à luz inaudita e abrasadora de um sol que cega os olhos inertes e desabituados a ver, para depois de novo ser afogado nas fezes, já liberto e uno, os joelhos sobre a grama dos jardins da primeira infância, gritos de prazer inocentes varando noites e os ouvidos do pai, os inebriantes fedores maternos ocupando todo o espaço em torno e então conviver com os pesares do crescimento, a espinha dorsal despontando ao céu, para assim outra vez estar só, habitando o mundo, solitário, com a vida apenas para si, e depois novamente se unir a outro corpo, em busca daquela dualidade da origem, e misturar-se com ele, para então mais uma vez cindir e se ver sozinho. Na merda.”

Um comentário:

Maria disse...

Mãezinha, eu vou estar contigo sempre.

Te amo. Tô com saudade.