terça-feira, 9 de outubro de 2007

Florzinha de papel


Da série Breves Contos



_ Sabe o que eu fiz com aquela florzinha de papel de guardanapo branca e leve como a pena de um passarinho que você me deu depois de misturar uns camparis com cerveja e dizer na frente de todo mundo que eu era gostosa que eu era “bonita pra burro” pensando que eu ia me impressionar só porque sabia de cor o Rondó de Efeito do Manuel Bandeira e ainda ter dito como se fosse a filosofia mais incrível que gosta mesmo é de viver como um cão sem dono sem precisar se dar pra ninguém e ter achado a maior graça do mundo quando eu disse olhando para o nada que tem gente que acha bonito ser canalha porque afinal de contas o Nélson Rodrigues veio com a idéia estapafúrdia de que ser canalha tinha poesia só que isso era nos anos 50 ou 40 não sei e todos os canalhas do Nélson caíram em desgraça mas você só prestou atenção nas partes em que eles tinham o mundo aos seus pés porque sabiam inventar verdades pra seduzir com os olhos mais limpos do mundo então você fez cara de sentimental com olheiras e disse com o maior cinismo que além da flor tinha pra mim umas pastilhas purgativas e nessa hora eu tive vontade de dizer só que fiquei sem graça e não disse que você está mais pra “O grande mentecapto” do que pra Don Juan com essa patética florzinha de papel que fica distribuindo pra qualquer fêmea desavisada que em pleno século vinte e um ainda acredita na sensibilidade do macho? Joguei na primeira poça de lama que encontrei quando fui embora.


7 comentários:

Anônimo disse...

A criatividade é mesmo um caminho sem volta. O momento criativo é também um momento em que se toma consciência de que não é possível voltar pra casa. Quando ali se instala, a alma perde os rumos, encontra-se consigo mesma e envereda por entrâncias às vezes só descobertas no instante da própria criação. Gosto dos seus contos, assim como das crônicas. Crie sempre. Abraço.

Anônimo disse...

Ei mãe, o cara é que é um desavisado. Bj...

Anônimo disse...

Ai, uma delícia esses contos breves, onde a gente esquece um pouco a maluquice do cotidiano e se embrenha na tua escrita, sempre surpreendente. Estou sempre aqui, Luli. BJ

Fábio Luis Neves disse...

Ufa!
Que texto gracioso! Adorei Luli!
Beijos!

Maria disse...

Uau.

Atrevido e muito sensível. Só pra variar, curti muito!

Te amo. Um cheiro

Anônimo disse...

As vezes as flores que a gente distribui pras pessoas são feitas de papel pautado.

Baccione,

Caio

julio miragaia disse...

Adorei. e tenho cada vez mais gostado de teus breves contos. estou vislumbrado com tamanha força e vigor numa escrita tão sutil.