quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Ballet


Deito-me na laje morna junto aos gatos que há horas se entregam lânguidos às próprias línguas. As últimas gotas da tarde escorrem em fios translúcidos sobre os telhados. No quarto fechado, a pequena bailarina ouve Chopin e dança de sapatilha “rota e fúlgida” o seu petit ballet, sem se importar que umas notas fugitivas do piano escapem por debaixo da porta e venham refugiar-se junto aos gatos. A este sinal, asas brancas dançam nas lonjuras azuis, nuvens dançam véus fluidos na atmosfera rosada, jovens e velhas folhas dançam de rosto colado às árvores. A bailarina vem para a laje, onde há espaço para o seu grand jeté. Chopin está vivo no quarto. Abraço um dos gatos, e num rompante de ternura, danço com aquele cego que não podia ver a primavera em Paris...



3 comentários:

OBDIAS Alves de ARAÚJO disse...

Está ficando cada vez mais difícil encontrar na rede algo digno de nossa leitura.
Tem muito miolo-de-pote.
A Luli preenche esta falta. escreve exatamente aquilo que seus olhos mostram. Bravo, Luli! Bravíssimo, Rojansky! Com ípsilon e tudo!

Itália Antunes disse...

Mããee!lindo o teu texto!me faz lembrar do meu ballet que eu fazia....áliass eu vou continuar fazendo né ! juro que tá lindo mãe ; tu tá falando do nossos gatos ? beijos pra ti !!!!

Anônimo disse...

Magnifico, magnetico, espectro, Feito o som que não ver e senti. Feito as gotas que quer enxergar e senti e ver. Existencia infimas, intimas que por mais abstrata reais, sensíveis...VAleu mais.