quarta-feira, 2 de junho de 2010

O ponto final de Wilson Bueno

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Quando um escritor morre, coloca o ponto final – definitivo – em sua obra. Mas por maior que seja a obra, sempre me causará impressão maior ainda a sua morte – esse mistério sem tempo, sem idade, sem destino certo. Assim estou hoje, impressionada e triste com o ponto final do escritor Wilson Bueno. Um ponto vermelho, escrito a sangue. O escritor paranaense, assassinado em Curitiba no dia 31, faz parte de uma geração de escritores que enriqueceram ainda mais a literatura brasileira (como Paulo Leminski e Manoel Carlos Karam), e muito certamente terá levado com ele a inigualável irreverência da linguagem. Dele li apenas um livro, Cachorros do céu, e devo dizer que logo percebi o quanto Bueno arriscava na escrita. Sua prosa é fundamentalmente inventiva.

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Wilson Bueno tem livros publicados no Chile, Cuba, México, Argentina e EUA, como A copista de Kafka, Amar-te a ti nem sei se com carícias e Cachorros do céu. Deixou pronto Mano, a noite está velha, ainda sem data para publicação, e deixou triste minha Maria, que tem como tema de sua pesquisa de mestrado a vida e a obra do escritor. Agora Maria tem também o seu ponto final definitivo para estudar. Espero que a partir dele, possa inventar palavras que traduzam a grandeza de Wilson Bueno.

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3 comentários:

Alexandre Alves Neto disse...

Lulih, compartilho contigo desse sentimento, é mesmo muito triste a morte de um artista. A morte violenta e traiçoeira, não a morte que a gente já espera.

Lulih Rojanski disse...

ALex,
Obrigada pela constante presença. Um abraço.

maria disse...

Mãe, olha o que Wilson Bueno escreveu sobre a morte:
"São pequenos e choram porque não ousam conceber que o mundo se constitua, para além deles, um espetáculo, ainda que de brilho suspeito e aterrador. Vigiam-se, mamam-se, babam-se e não dão trégua, um minuto sequer, nos usos de sofrer a vida como um acontecimento espantoso e ao chegarem frágeis, cheios de fúria; e despreparados."
E sobre a morte do cronista Carlinhos Oliveira, no Diário Vagau:
"[...] O que se dirá de quem carrega a noite nas costas, sabe que vai ser enterrado vivo em Curitiba, e nasceu de viés, e jamais compreenderá que a aventura humana - de tão fascinante - termine numa morte vulgar, muito aquém do triunfo da vida, as suas brasas de veneno e cal?"
Não é triste e injusto que tenha tido uma morte tão vulgar, também, e que sua fonte de inventividade tenha sido interrompida para sempre?