terça-feira, 4 de maio de 2010

Minha casa

Zeca Baleiro

É mais fácil cultuar os mortos que os vivos
mais fácil viver de sombras que de sóis
é mais fácil mimeografar o passado
que imprimir o futuro

Não quero ser triste
como o poeta que envelhece
lendo maiakóvski na loja de conveniência
não quero ser alegre
como o cão que sai a passear
com o seu dono alegre
sob o sol de domingo
nem quero ser estanque
como quem constrói estradas e não anda

Quero no escuro
como um cego tatear estrelas distraídas
amoras silvestres no passeio público
amores secretos debaixo dos guarda-chuvas
tempestades que não param
pára-raios quem não tem
mesmo que não venha o trem não posso parar

Vejo o mundo passar como passa
uma escola de samba que atravessa
pergunto onde estão teus tamborins
pergunto onde estão teus tamborins
sentado na porta de minha casa
a mesma e única casa
a casa onde eu sempre morei

Um comentário:

jac rizzo disse...

Fiquei com vontade de soprar..a
florzinha..linda!!
(Inventei uma reticência menor, por
conta de uma necessidade que surgiu)
Eu amo, mesmo, as reticências e todas
as suas variações!

Eu colhia amoras silvestres quando
criança, e ainda hoje tateio estrelas.

Bjos.