
Série: Pandora
Nina colheu a loucura da caixa de Pandora...
Eu vejo o tempo sentado à minha porta, esperando que eu passe. Não me olha, não levanta a mão num de seus gestos de sábio, nem nunca ameaçou lançar-se sobre mim como a pantera da ingratidão para me devorar a doçura, minha única herança. Mas também não me parece ter complacência, e um dia, quando eu estiver bem perto, apenas me apontará um dedo sereno anunciando o fim já esperado. Enquanto ele me espera, escrevo-lhe a carta de despedida, sugiro-lhe urgente resposta porque não posso mais vê-lo ali na sua imobilidade de guardador das coisas que ele não ama. Porque o tempo simplesmente não ama ninguém. Quero saber dele quanto dura o nunca mais, quantos sóis dura um amor, em que parte da viagem ficou perdida a esperança, ficou perdido o meu nome, o desejo de ser uma mulher azul com asas de anjo, que tivesse um coração de pássaro, que respirasse saudades e cantasse ternas reticências... Ele não vai responder. Nem por isso vou odiá-lo. Vou fazer coisa pior: vou passar bem devagar e deixá-lo ao castigo da espera.