domingo, 10 de agosto de 2008

Meninas reais

Esta pequena série de crônicas que começo a publicar hoje foi escrita há algum tempo, quando eu tentava escrever textos menos líricos, menos introspectivos – pra não dizer menos sentimentais – mas que acabaram resultando em algo que acabei considerando difícil publicar. Mudei de idéia. São textos sem mais compromisso que o de contar pequenas irrelevâncias diárias. Somente este primeiro foi publicado um dia, num blog cujo nome até esqueci, e foi lido, sem dúvida, pelos meus inumeráveis leitores de toda a pátria amada Brasil e alguns parentes da Cracóvia... A série, sem nome, é baseada em meninas reais.


Café e rock’n roll

Paula ouve rock às seis e meia da manhã, enquanto se apronta para a escola. Eu, enquanto faço o café, vou desmantelando a cozinha, procurando o açúcar que escondi das formigas. “Meu Deus, que música é essa, a uma hora dessas?”. Paula grita no banheiro, em língua indecifrável, acompanhando a melodia. “Essa guitarra não me é estranha...”, penso, e enfim o açúcar, na gaveta dos legumes, na geladeira. Cheio de formigas. A pirada sai do banheiro enrolada em três toalhas, enquanto os pés molhados vão deixando um rastro aquático até o quarto. “Por que ela não aprende a se enxugar antes de sair do banheiro?” Dou-me conta de que tenho me perguntado o mesmo todas as manhãs dos últimos dez anos – pelo menos – e tenho certeza de que vou continuar me perguntando. “Ela ainda diz que a maluca sou eu”. No quarto, a garota rock´n roll aumenta o som. “Essa música vai me enlouquecer”, digo pra mim em voz alta, sapecando os dedos na tampa do bule. Café pronto. Escondo o açúcar em lugar mais seguro. “Na idade dela, eu ouvia caras bons. Santana, Peter Frampton, Pink Floyd...”. Uniformizada, a maluca vem para a cozinha tomar café. E o som mandando fogo nas paredes da casa. “Minha filha, meus ouvidos não têm mais paciência pra isso... quem são esses caras que você ouve?”. E ela, com a cara mais impávida e a boca cheia de pão torrado: “Pink Floyd, mãe”.

4 comentários:

Fábio Luis Neves disse...

Café e Rock and Roll, duas de minhas paixões (que são umas dez).
Conhecia esse texto já, por intermédio da própria Paula, hahaha, mas não era outro o título?

Outro beijo Luli!

Paulozab disse...

Ainda não descobri quem é, mas uma eu sei que não é... rsrs :P

Anônimo disse...

Ei ! Já conhecia também dos tempos do "No meio do salão". Saudações floydianas. Z.

Anônimo disse...

Posso chutar?... Provavelmente "Another brick in the wall Part II"?... Da era pós-defenestração do Syd Barrett, né não?... A fase mais maluca do PF se deu quando o mais maluco deles assombrava a platéia com suas performances pra lá de esquisitas... Que orgulho besta seria o meu de flagrar umas das minhas 3 ouvindo uma dessas jurássicas bandas que tartamudeiam ali na minha vinylteca ou cdteca... Que nada!... Nestes tempos de imediatismo inconseqüente livros, vinys, cds, dvds originais passam longe dessa tchurma... Preferem os piratex donwlodados da net... Música, clipes, vídeos de animes, de músicas, de filmes... You tube and don't not disturb!... Or die!... Só falta eles nos dizerem isso... Abraços, Luli...